SPCD e Orquestra Jovem do Estado: Suíte Raymonda e Aparições

O que se dá a partir dos encontros entre danças populares e a dança acadêmica? É a tentativa de responder a essa pergunta que mobilizou a mais recente apresentação da SPCD com a Orquestra Jovem do Estado de São Paulo. O programa coloca em confronto duas obras baseadas nas danças populares húngaras e brasileiras, respectivamente: Suíte Raymonda e Aparições.
 
Essa parceria tem sido muito produtiva em realizar performances de dança com música ao vivo na cidade de São Paulo. Posto que esta cidade é um pólo de referência nacional da dança, nada mais justo do que aumentar também a qualidade musical das performances que aqui acontecem. No Theatro São Pedro tivemos estreia de Pulcinella em 2017, Os Amores do Poeta em 2018, e agora Suíte Raymonda e Aparições. Isso sem citar as produções com a OSESP na Sala São Paulo: Lago dos Cisnes, Tchaikovsky Pas de Deux, Pas de deux de Romeu e Julieta e Pássaro de Fogo.
 
É de fato um prazer assistir a Suíte Raymonda com orquestra ao vivo. Depois da performance do ano passado, é visível tanto um aprimoramento da técnica clássica quanto, obviamente, da qualidade sonora apresentada em cena. Porém a interpretação, do ponto de vista coreográfico, ainda soa um pouco rígida, principalmente no que tange à fluidez de braços. A obra foi remontagem de Guivalde de Almeida, coreógrafo paulista que infelizmente faleceu em fevereiro deste ano: é uma homenagem muito bonita que sua última grande produção tenha tido o privilégio de ser performada com música ao vivo.
 
O Maestro Cláudio Cruz foi competente nas escolhas de andamentos e dinâmicas adequadas a cada momento de Suíte Raymonda.  A orquestra, composta majoritariamente por jovens estudantes, se viu desafiada na abertura de Ruslan e Ludmila (Mikhail Glinka), que precedeu Suíte Raymonda e formou uma introdução interessante à música de Glazunov.
 
Aparições, de Ana Catarina Vieira, remeteu em um primeiro momento às coreografias do Grupo Corpo, tanto pelo uso de música brasileira quanto pelas escolhas coreográficas mais verticais e individuais, em que a prioridade é dada aos pés e quadris e, portanto, ao ritmo tipicamente brasileiro. Destaque para os figurinos e ilunminação: desenhos e paletas de cores incomuns nas vestimentas formaram um todo interessante com as obras de Portinari ao fundo. Enquanto as obras de Portinari apresentadas remetem diretamente à infância – o título delas não é apresentado no programa, de modo que fica difícil citá-las propriamente aqui – os figurinos lembram as pinturas de referência diretamente cubista de Portinari, como que reunindo em cena duas fases diferentes do pintor. Coreograficamente, é a cena do Boi Bumbá que se destaca, tanto pelo uso do Boi em cena quanto pelo paralelo direto entre o “boi coreográfico” e “boi cênico”. É, talvez, um dos momentos mais expressivos da obra, tanto que dispensa o uso de cenários empregados nas cenas anteriores e posteriores a ela.
 
Num primeiro olhar, as duas obras apresentadas nessa noite poderiam parecer quase que diametralmente opostas, porém o realce de um detalhe comum  entre as duas – a dança popular – já nos leva a vê-las com mais proximidade. Um pequeno detalhe de curadoria que nos faz observá-las em diálogo e proximidade.

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