Crítica: La Traviata (Orquestra Sinfônica e Coral Lírico de MG)

Foto: Paulo Lacerda

O Harmonia, programa exibido pela Rede Minas, tem cumprido com a importante tarefa de levar a música até a casa do ouvinte nesse momento de confinamento social. Exibiu algumas óperas na TV e no YouTube durante o mês de junho e dentre elas se encontra La Traviata. É um prazer poder ter acesso a gravações de alto nível de óperas como essa por meio da internet, pois democratiza o acesso à ópera ao disponibilizá-la com legendas em português – sabemos que a barreira do idioma é um grande impecilho à apreciação do gênero. Além disso, divulga o trabalho de artistas nacionais do ramo operístico.

A ópera foi executada pela Orquestra Sinfônica de Minas Gerais sob regência de Silvio Viegas e com participação do Coral Lírico de Minas Gerais e Cia de Dança do Palácio das Artes. Trata-se da mesma produção que foi realizada um mês depois (maio de 2018) no Theatro Municipal de São Paulo, contando com o mesmo grupo de solistas e dirigida também por Jorge Takla. A gravação em vídeo foi muito bem editada, alternando entre planos abertos e fechados para enfatizar os detalhes cênicos e expressivos da obra de Giuseppe Verdi.

O papel da protagonista Violetta Valéry foi interpretado por Jaquelina Livieri, que se empenhou na tarefa de dar vida à personagem. A cantora demonstrou ter ótimo domínio cênico, e pôde transitar por toda a gama de emoções típicas da ópera romântica. Pode até lhe faltar brilho e leveza na voz, mas o peso nesse caso é bem vindo por remeter a uma mulher mais madura, que clama pela independência mesmo que isso lhe leve a ser rotulada (e punida…) por ser uma mulher “transviada”.

Os principais papéis masculinos foram interpretados com sobriedade por Fernando Portari (Alfredo Germont) e Paulo Szot (Giorgio Germont). A pouca afetação emotiva observada na interpretação desses dois personagens contribuiu para o estabelecimento de uma atmosfera de tradição moral e religiosa sólida, transmitindo um peso opressivo ainda maior sobre Violetta Valéry.

Destaque para as cenas de dança, executadas expressivamente e adicionando interessantes camadas dramáticas à obra. No último ato, especificamente, a dança se sobressai ao simbolizar em cena a lenta e sorrateira aproximação da morte de Violetta, compondo um corpo de baile à moda dos grandes balés românticos, porém com uma atualização contemporânea que o torna sombrio e macabro. O bom uso coreográfico, no entanto, é feito na medida certa e em nada rouba a cena operística, pelo contrário: faz da morte da protagonista um momento de poesia.

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Este texto foi um exercício do curso de Jornalismo Cultural e a Crítica de Artes, realizado no Centro de Pesquisa e Formação do SESC-SP.

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