Citação coreomusical: Igor Stravinsky, ritmo e jazz

O que acontece quando escapamos do compasso?

Quantos de nós, ouvindo jazz, não terão sentido uma curiosa sensação próxima da vertigem, quando um dançarino ou músico solista, tentando insistentemente enfatizar acentos irregulares, não consegue desviar o nosso ouvido da pulsação regular da métrica produzida pela percussão? De que modo reagimos a uma impressão dessa natureza? o que chama mais a atenção nesse conflito entre ritmo e métrica? É a obsessão com a regularidade.

Igor Stravinsky

Se a métrica de uma régua mede espaços de uma mesma duração, a métrica musical, com seus compassos binários, ternários, quaternários (dentre tantos outros) mede tempos de uma mesma duração. É o esqueleto, o alicerce sobre o qual os ritmos erguem suas frases. Ritmos são frases de som que, assim como frases dançadas ou faladas, não se obrigam à métrica, porém dialogam com ela com maior ou menor consideração: ora seguindo, ora discordando, ora retomando a proximidade, ora indo embora sem ter hora pra voltar.

Stravinsky fala, portanto, dessa brincadeira entre ritmo e métrica, e principalmente da sensação de vertigem que ela pode causar a quem souber percebê-la. Talvez aqueles mais obcecados com a regra, com a regularidade, sejam os mais suscetíveis a esse tipo de sensação no jogo das durações…

Referências

STRAVINSKY, Igor. Poética musical em seis lições. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996, p. 35-36.

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