silhouette photography of people on theater

Exercicrítica #1: Mostra de Dança 2018 — Escola de Dança do Teatro Guaíra (Curitiba, PR)

(Texto originalmente publicado na plataforma Medium em 15/06/2018)

Auditório pequeno e confortável. A leitura do programa mostra o básico da estrutura a Escola de Dança do Teatro Guaíra. Exceto dois compositores talvez brasileiros, as composições me levam a deduzir que será uma noite clássico e neoclássica, com pequenas incursões em outros usos musicais para além do classicamente estabelecido no século XIX. Pouca plateia, aparentemente uma maioria de parentes dos bailarinos e bailarinas.

O espetáculo é inaugurado por uma coreografia contemporânea (Tempo), de poucos elementos de movimentação e muito respeito na execução, feita por crianças e adolescentes. A limitação de movimentação horizontal nos desenhos coreográficos, por entradas e saídas em filas pelo palco, permite observar diferentes velocidades e qualidades do ato de andar. Minimalista e repetitiva, a música acrescenta poucas informações rítmicas, uma vez que estas já são suficientemente preenchidas pela coreografia e pelas imagens de trânsito metropolitano projetadas ao fundo (semelhantes à ideia do filme Koyaanisqatsi, de 1982). O movimento geral gradativamente se torna circular, seguido pela finalização híbrida de um bailarino flautista, tão cíclica quanto a movimentação espacial que o precedia. A flauta anuncia o tema do próximo evento, a variação de Princesa Florine, formando uma transição de continuidade muito perspicaz e original entre os universos contemporâneo e clássico.

Seguem variações de balé clássico de nível iniciante e intermediário, porém nas quais as bailarinas visivelmente estão dando o melhor de si. É interessante que a escola proporcione este espaço como laboratório aos seus alunos que, como futuros profissionais, podem assim exercitar suas competências como solistas.

Em Segredo há intensa uso de um elemento sub-explorado nas anteriores danças clássicas: mãos. Movimentos rotativos de ombros e fluidos de braços, aliados a uma rítmica marcada e pouco previsível — visto que dissociada do amparo musical — trabalham uma flexibilidade de membros superiores que, futuramente, terá muito a agregar à própria técnica clássica das bailarinas, esta ainda carente de fluidez no trabalho de pontas. No entanto as coreografias de meia ponta em conjunto apresentam uma limpeza e consciência técnica dignas de destaque.

O fato de todo a apresentação ser executada com pouca ansiedade visível e uma união de grupo quase palpável entre os executantes me leva a deduzir que a escola tem fornecido ótimo suporte emocional a seus alunos. O programa impresso nada promete, já que disponibiliza poucas informações sobre o que o espectador pode esperar da apresentação (principalmente a uma paulista estrangeira que caiu de paraquedas no Guairinha). Mas não frustra, pois as surpresas só foram positivas.

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