Os platôs de Platô | iN SAiO

03 de fevereiro

É sexta-feira, é dia de estreia de mais uma temporada de Platô, desta vez na Sala Olido. Cadeiras rodeiam a borda do palco em linha única: a plateia estará em posição horizontal em relação aos artistas. Chego mais cedo, antes da plateia, enquanto Claudia e Armando se aquecem e se apropriam do ambiente da apresentação.

Apesar de estarem sempre comunicativos nos ensaios, encontro-os compenetrados e comprometidos com suas performances. Trinta minutos antes de entrarem em cena eles entram no silêncio. A prática de Tai chi chuan, ainda que esboçada nos ensaios anteriores, entra por inteiro nesse momento, como ferramenta que estabelece um platô de quietude, disciplina e conexão entre eles.

Assim como no Platô do Centro de Referência da Dança (CRD) em 2022, o som da rua que adentra a Sala Olido confirma as palavras de John Cage: não existe isso que se entende como silêncio. As condições técnicas da sala cênica do CRD e da Sala Olido permitem passar um tanto mais de ruído do mundo exterior do que se espera para o vazio dos teatros, mas isso não é uma crítica sobre a presença ou ausência de bons isolamentos acústicos nesses ambientes. É que silêncio, na verdade, não é buscar pela ausência de ruídos, mas sim abrir-se e deixar passar o ruído que vem de fora. O que se silencia, apenas, é o que vem de dentro.

Na performance desta noite, a Sala Olido transformou demais (e para melhor) os corpos de Claudia e Armando e a própria obra. Perceber Platô de um platô horizontal, ao nível dos olhos, deu ao trabalho um caráter mais fisicamente sonoro: seus silêncios passaram a ser espaços para se sentir como som as respirações, as diferentes dinâmicas do corpo e dos três objetos cênicos (a corda, o banco e o copo d’água). As sutilezas na articulação desses elementos revelaram platôs antes ocultos na vista vertical e escura da sala cênica do CRD.

O que é, afinal, Platô?

Platô são momentos de duas forças que ora se encontram ora se desencontram, ora se conectam ora se dissociam. O que mantém essas duas forças relacionadas, apesar de tudo, é um emaranhado de vivências compartilhadas. Com elas, traçam descidas e subidas de uma escalada de décadas, na qual toda retomada é uma renovação. Platô, na verdade, são mil platôs.


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