Martha Graham: o caminho menos percorrido
Texto de Peter Sparling originalmente publicado em The New York Times. Tradução de Tatiana Avanço.
Fiquei desapontado com a descrição de Terry Teachout sobre o uso da música por Martha Graham “como um plano de fundo que cria o clima, desatenta em relação à sua forma” [“A Choreographer Who First Hears the Dance”, jan. 9] Como músico de formação, dançarino da Companhia Martha Graham por um período de 26 anos, e agora diretor responsável por remontar as obras de Graham pelo mundo, tenho experienciado suas particulares sensibilidades musicais, e admito que estive em conflito com elas. Martha poderia nos admoestar a resistir à tentação de esperar ouvir a batida antes de se incorporar seguramente em seu desdobramento, ou a “dançar para a música”. Ela insistia que nós, pelo contrário, encontrássemos um contraponto muscular para projetar o movimento adiante, como se a música fosse uma amplificação do núcleo emocional das vísceras e da psique. Ela sabia muito sobre a física dos olhos e dos ouvidos, e como um certo desencaixe entre movimento e música criava a tensão dramática necessária para uma caracterização multifacetada.
Devido ao seu entendimento da forma musical, Martha se afastou da tradição de exotismo de Denishawn e do “plano de fundo que cria o clima”, sob a rigorosa tutela de Louis Horst.
É preciso apenas olhar para suas coreografias iniciais como “Primitive Mysteries”, Frontier” e “Heretic” para testemunhar o obssessivo e calculado rigor com o qual Graham fazia o movimento caber em partituras feitas sob medida. Seu tratamento coreográfico tardio de partituras encomendadas de Copland, Barber e Schuman revelam um instinto estranhamente brilhante em nunca permitir que a música subjugasse o drama. Ainda assim, cada solo, grupo ou passagem de transição permanecem primorosamente moldados em relação à estrutura da música. Mímicas flagrantes, espelhamento e “visualização” da música são evitados para maximizar a própria dinâmica lírica ou percussiva do corpo. Este é o desafio em ensinar as obras de Graham a novos dançarinos: saber a música tão bem que as correspondências formais óbvias e as cuidadosamente roteirizadas se tornem um mapa de referências em um caminho turbulento, e não um “terno” formal bem ajustado do qual você desfruta confortavelmente. Essa é uma vaidade que Martha jamais permitiria.
Peter Sparling