O balé clássico é, nesse sentido, mais próximo da música do que qualquer outra coisa. Na música o som é organizado harmoniosamente, e o que ele declara só pode ser descrito parcialmente em palavras. No balé clássico é o corpo que fala, pois ele é sujeito da harmonia dos passos que está executando. E ele fala para o coração em uma linguagem tão direta quanto a música. É claro, a amplitude de sentido do corpo é mais limitada – ele não pode superar completamente sua concretude -, ele pode apenas tornar a música concreta, traduzindo sua linguagem abstrata em forma plástica. Eu acredito que o corpo pode superar sua corporeidade através da magia da inspiração, e ele que pode ser transfigurado em frase musical. Mas como alcançar isso? Isso não pode ser ensinado, e embora eu tenha tentado muito não pude encontrar a fórmula mágica. É possível que eu esteja adentrando agora o verdadeiro segredo da arte e da inspiração, aquele que ninguém jamais foi capaz de decifrar.
Natalia Makarova
Tradução de trecho do livro Music for the Dance, de Katherine Teck, 1989, p. 183.