6. O sonho de Claudia | iN SAiO

Páginas de um diário de bordo do processo criativo de dança de Claudia Palma, Armando Aurich e Ana Mondini na iN SAiO cia. de Artes

5. Acreditar e esquecer para lembrar melhor | iN SAiO


23 de fevereiro: O sonho de Claudia

Claudia Palma teve um sonho: sonhou que estava em um lugar amplo e redondo, cercado de cadeiras. No chão, areia branca e ossos de humanos e de animais, entrecobertos pela areia. Ela, Armando e Ana ocupam esse espaço com movimentos inicialmente leves, mas que gradualmente se intensificam até atingir um ritual de passagem. “Ritual para quê?”, questiona Claudia.

Ritual para um encontro muito almejado. Ana Mondini, que há de se encontrar com Claudia e Armando na coreografia final, parece já estar se comunicando por meio desse sonho, que se torna a ideia inicial de cena. Claudia sonha um espaço circular, branco e arenoso como um lugar onde os três coabitam e aguardam pelo público, e convidam quem chega a adentrar o espaço, à maneira de um portal.

O convite a entrar no espaço já estava em Dark Room (2013) e no solo de Claudia Um Outro Corpo (2004). As diferenças deles com o trabalho atual são a circularidade do espaço e o desejo de percorrê-lo em sentido anti-horário. O mais complexo, nesse primeiro momento, é alinhar as ideias espaciais de travessia entre eles dois: traçar um caminho comum ou vários caminhos separados? Quando e por que reunir os caminhos?

Parece que estar juntos logo no início – e fazer um caminho junto e serpenteado, como um cardume – transmite uma imagem de mais força. Parece que o ritual deverá estar centrado nas memórias coreográficas de Claudia, Armando e Ana, mas como dispará-las?

A música pode ser útil nisso, aflorando memórias, mas Armando teme que a música dê forma demais ao corpo, fazendo que o relembrar se torne um refazer. Talvez, nesse caso, a música seja um elemento excessivamente forte para a ativação das memórias, pois não se pretende recoreografar, mas sim recuperar sensação e a lembrança daquilo que já foi dançado.

Sendo assim, a música não pode remeter diretamente às danças anteriores, mas precisa remeter ao ritual. Passa-se a desejar sons de água e sons de ar, dois elementos da natureza que sugerem o contato entre diferentes tempos e espaços – e, portanto, o contato com Ana, pois mesmo separada pelo mar respira o mesmo ar de Claudia e Armando. A música de Joaquim Tomé para Fôlego parece ter as características desejadas de pulso e impulso dos quais o corpo necessitará para atingir um êxtase ritualístico.


7. A cama que a gente arruma para Ana bagunçar | iN SAiO


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