Resenha: Encontro Música e Dança – SPCD

Assistir ao Encontro Música e Dança, promovido pela São Paulo Companhia de Dança, é um respiro em meio à pandemia. Rose Pavanelli conduziu o encontro no dia 19 de março de 2021. Ela é uma senhora pianista das aulas de balé da companhia, dona de uma vitalidade, de um espírito vibrante que a rejuvenesce. Fica claro que é essa vitalidade que ela transmite por meio da música, provendo ao piano o impulso vital sonoro que é tão necessário ao balé.

Ela se dirige aos bailarinos sempre de forma leve. Sua fala não tem peso de autoridade, de quem tem razão por saber mais de música do que quem dança. Pelo contrário, Rose começa justamente quebrando com o mito que separa pessoas entre as que tem ouvido e as que não tem. Para ela, todos nascemos com um senso rítmico natural que, caso não seja estimulado, pode ser perdido ao longo da vida. Quem “tem ouvido” é quem não perdeu esse senso, e aqueles que o perderam podem recuperá-lo simplesmente ouvindo a música para além das contagens de tempo, sentindo seus pulsos, e assim estabelecer uma relação mais estreita entre a música e a sua dança.

Rose lamenta que não haja formação de bailarinos para a escuta musical nem formação de musicistas para aulas de dança. Ela relata sua experiência como pianista na Escola de Dança do Teatro Municipal, dizendo como eram as aulas de música para bailarinos antigamente. Essas aulas eram focadas em notação rítmica e história da música, ou seja, nos elementos musicais que não tem utilidade prática para quem dança! O relato da Rose reforça a ideia de que uma musicalização para bailarinos precisa ser focada em elementos da percepção musical, e não da criação musical. Deixemos as semínimas e as claves de sol e de fá para os músicos e foquemos no que de fato nos chega aos ouvidos.

A sensibilidade dela na colaboração com os professores de dança é notável. Ela promove o uso de música brasileira em sala de aula justamente por observar a proximidade, o afeto com o qual essa música é recebida pelos estudantes, facilitando assim a assimilação da técnica de dança. Rose também comenta sobre os modos de comunicação entre professor e pianosta, dizendo o quanto a própria articulação de voz e corpo do professor ao explicar os passos é capaz de transmitir o andamento, a articulação e a métrica musicais. Ela incentiva o uso desse recurso, dizendo o quanto ele é mais rico do que um simples estalar de dedos. Um estalar de dedos, por mais que pareça indicar um andamento musical, nada diz acerca do que o bailarino realmente quer da música como um todo.

A ideia de fazer uma música que seja impulso vital da dança fica ainda mais evidente quando a pianista diz que andamento não é questão de batidas por minuto, mas sim de estado emocional. Rose relata que toca mais rápido quando está mais animada e mais lento quando está cansada. É uma confissão rara de se ouvir, e que só sai da boca de quem tem uma relação muito sincera entre a música e o corpo.Acredito que, na dança, precisamos de mais musicistas com esse tipo de abertura e de sinceridade, pois é na base do afeto que se constrói relações íntimas entre as artes e entre os artistas.

Uma resposta para “Resenha: Encontro Música e Dança – SPCD”.

  1. Avatar de ROSANGELA Pecoriello
    ROSANGELA Pecoriello

    Fico impressionada como algumas pessoas tem música na alma. A pianista Rose é exatamente essa pessoa,, tem conhecimento musicista profundo e entendimento claro sobre dança e música.. Uma aula de dança com uma pianista com tanto talento é um convite para o mundo dos espetáculos.
    Parabéns a todos!

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