Os cinco princípios do novo balé, por Michel Fokine

Não formar combinações de passos pré-fabricados e estabelecidos, mas criar em cada caso uma nova forma que seja correspondente ao assunto, a forma mais expressiva possível para a representação do período e do caráter da nação representada — esta é a primeira regra do novo balé.

A segunda regra é que dança e gestos miméticos não tem sentido em um balé ao menos que eles sirvam como uma expressão de sua ação dramática, e eles não devem ser usados como mero divertissement ou entretenimento, sem ter conexão com a trama do balé completo.

A terceira regra é que o novo balé admite o uso de gestos convencionais apenas onde eles forem necessários para o estilo do balé, e em todos os outros casos deve se esforçar para substituir gestos de mãos por mímica de corpo inteiro. O homem pode e deve ser expressivo da cabeça aos pés.

A quarta regra é a da expressividade de grupos e de dança em conjunto. No antigo balé os bailarinos eram arranjados em grupos apenas com o propósito de ornamento, e o mestre de balé não estava preocupado com a expressão de qualquer sentimento em grupos de personagens ou em danças em conjunto. O novo balé, por outro lado, desenvolvendo o princípio da expressividade, avança da expressividade no rosto para a expressividade no corpo inteiro, e da expressividade do corpo individual para a expressividade de um grupo de corpos e para a expressividade da dança coletiva de uma multidão.

A quinta regra é a aliança da dança com outras artes. O novo balé, recusando ser escravo da música ou da decoração cênica, e reconhecendo a aliança das artes apenas em condição de completa igualdade, permite uma perfeita liberdade tanto para o artista de cenário quanto para o músico. Em contraposição com o antigo balé, o novo não demanda do compositor “música de balé” como acompanhamento para a dança; ele aceita música de todo tipo, e requer apenas que ela seja boa e expressiva. Ele não demanda do artista de cenário que ele disponha as bailarinas em saias curtas e sapatilhas cor-de-rosa. Ele não impõe nenhuma condição específica de “balé” ao compositor ou ao artista de decoração, mas dá completa liberdade aos seus poderes criativos.

Tradução de excerto da carta de Michel Fokine ao jornal The Times, de 6 de julho de 1914. Fonte: COPELAND, Roger. COHEN, Marshall. What is Dance: Readings in theory and criticism. Oxford: Oxford University Press, 1983, p. 260

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