Tempo e cumplicidade em Platô, com Claudia Palma e Armando Aurich

O tempo é inversamente cumulativo: quanto mais ele passa, mais convida a abrir mão de excessos e mais ensina a apreciar o simples. Assim, a coragem de ser simples é resultado de tempo e de experiência.

Carregando 45 anos de experiência e cumplicidade em dança, os bailarinos Claudia Palma e Armando Aurich revelam camadas de tempo em Platô (2014). É um duo com ares autobiográficos que gira em torno dos próprios encontros e desencontros de seus intérpretes, seja nas idas e vindas da performance – Platô estreou em 2014 e voltou à cena em 2021 e 2022 – seja nas vivências de Claudia e Armando em companhias de dança de São Paulo. Ambos foram bailarinos do Balé da Cidade de São Paulo e integraram a Cia. 2, que era formada pelos veteranos do Balé da Cidade. Embora a Cia. 2 tenha durado apenas dez anos (de 1999 a 2009), sua premissa de pôr danças maduras em cena continua viva no trabalho de direção de Claudia Palma na iN SAiO Cia. de Arte.

A conexão antiga entre Claudia e Armando é mais que questão de datas: é cenicamente palpável, e explorada como o principal elemento coreográfico de Platô. A sintonia sensorial entre os dois bailarinos é intensa, de modo que suas presenças se bastam em cena e não dependem do apoio de outros elementos cênicos. Em suas quedas ao chão, por exemplo, Claudia e Armando demonstram uma sintonia temporal tão refinada que dispensa qualquer apoio rítmico musical para acontecer com precisão. Nesse contexto, a música de Celso Nascimento para Platô é tão discreta quanto o necessário para deixar os intérpretes em total evidência.

Deste modo, Platô revela-se um trabalho de maturidade, simplicidade e alta cumplicidade, e evidencia a densidade e a leveza das camadas de tempo que tecem suas tramas.

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