4. Presenças virtuais: tudo é e tudo está | iN SAiO

Páginas de um diário de bordo do processo criativo de dança de Claudia Palma, Armando Aurich e Ana Mondini na iN SAiO cia. de Artes.

3. Dança e filosofia encontram o ritual | iN SAiO


15 de fevereiro: Presenças virtuais – tudo é e tudo está

De Portugal, Ana Mondini finalmente se faz presente em reunião online com todos os atuais membros da iN SAiO: Claudia Palma, Armando Aurich, Natalia Franciscone, Cristiane D’Ávila, Cristiane Klein, Rodrigo Vilalba e eu, Tatiana Avanço.

Claudia Palma e Rodrigo Vilalba recapitulam a anterior conversa do almoço. Claudia preocupa-se com a separação oceânica de Ana e suas implicações para o processo criativo de dança porém Ana Mondini, logo em sua primeira interação, quebra com toda a ideia de distância: diz que, mesmo estando em Portugal, “não há separação” e que ela crê estar presente em São Paulo, telepaticamente, espiritualmente. É a presença da intenção, da memória e da vontade de dançar junto.

Uma simbiose rapidamente se estabelece entre Ana e Vilalba, pois o viés filosófico e antropológico dele dialoga com o xamanismo dela. As ideias de Vilalba contribuem para dar uma base concreta ao que Ana descreve em termos espirituais: se é um fato físico e geográfico que os rios voadores atravessem os oceanos e continentes em forma de vapor, é real que no Brasil e em Portugal estejamos respirando o mesmo ar, por exemplo. Assim, a presença de Ana durante o processo criativo de Claudia e Armando não é mera força de expressão, mas simplesmente um modo mais amplo e mais ancestral de entender o tempo e o espaço.

“A Ana está no meu corpo, em aula, em palco, ela não sabe o quanto eu suguei dela”, diz Claudia. Armando enfatiza o quanto Mar dito mar (1995), coreografado por Ana Mondini, foi um divisor de águas em sua vivência de bailarino. Ana, por sua vez, também se refaz por meio dos olhares deles dois, e diz que “já era tudo isso que foi dito e não sabia”.

Ser mais do que se imagina que se é: mais que ser gente, também ser bicho. É disso que trata o livro Escute as feras (2021), que a partir desse dia se estabelece como inspiração criativa comum para Claudia, Armando e Ana. Para Ana, não se trata de tornar-se animal, mas sim de perceber a presença animal que já existe no humano. Essa animalidade é um desequilíbrio na identidade humana – desequilíbrio que Claudia e Armando começam a conduzir corporalmente por meio da coluna vertebral.

Entre o desequilíbrio que o mar causa no corpo e o desequilíbrio da animalidade, ainda há uma longa travessia, cheia de instabilidade e de possibilidades, por meio da qual todas essas ideias ganharão corpo em forma de dança. Como fazê-las dançar? Como dançar entre elas?


5. Acreditar e esquecer para lembrar melhor | iN SAiO

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