iN SAiO Convida: Será que estamos, Estudo entre fragmentações e Helena: na toada da estrada

Como parte das ações contempladas pelo 32º Edital de Fomento a Dança, a iN SAiO Cia. de Arte organizou o iN SAiO Convida, um evento dedicado à troca de experiências entre artistas de dança e a diretora Claudia Palma. Em sua segunda edição, o evento aconteceu via encontros de compartilhamento de processos e procedimentos criativos, finalizando em uma mostra coreográfica na Oficina Cultural Oswald de Andrade.

Nesses encontros, o objetivo central era tanto afetar quanto ser afetado, de modo que todos, todas e todes aprendam no contato com o outro. Por focar em trabalhos de dança ainda em processo criativo, a mostra final do iN SAiO Convida foi uma rica oportunidade de pôr as ideias à prova e de testar novas possibilidades em cena. Fica evidente a importância de eventos como esse, que assim como a 8ª Mostra de Artistas Residentes do CRD dão abertura para o estudo e para o vital risco da experimentação.

Será que estamos?

Numa dança que trata da construção de identidade gay, Renato Vasconcelos e Rodrigo Raiz entrelaçam-se num duo que, nesta versão, culmina na individualização de seus intérpretes. Diferente da versão anterior no CRD, a que foi apresentada na iN SAiO Convida possui dois solos, acompanhados pela percussão ao vivo de George Ferreira. A presença do percussionista dá ainda mais variedade ao já variado acompanhamento musical desse trabalho.

Como dito anteriormente, os gêneros musicais urbanos e periféricos – especialmente o funk – mantém o vínculo do corpo com a rua e com a boate, mesmo que ele esteja na caixa cênica do teatro. Vale, então, pensar sobre os outros lugares e sentidos que as diversas escolhas sonoras da obra sugerem. No início, ouve-se cliques de fotografia entremeados com canto lírico: somados ao lento engatinhar do duo, esses sons não levam à cantora de ópera, mas sim ao grito da bicha que quer ser vista e fotografada. Na percussão ao vivo, no entanto, ainda não parece definitivo o espaço ou sentido que se quer sugerir, embora haja a possibilidade de ser um terreiro – especialmente no solo final de Rodrigo. A resposta para essa questão fica para as versões seguintes, que podem se beneficiar bastante do aprofundamento da relação com a música ao vivo.

Estudo entre Fragmentações

Com um foco radical na exploração de movimentos fragmentados do corpo, o solo de Rebeca Tadiello é feito inteiramente no silêncio, com algumas manifestações discretas e espontâneas do som da voz. Entre tensões e relaxamentos de movimentações interrompidas, o solo cria a ideia de um corpo com vontade além da vontade própria, e de uma mente que se frustra ao tentar controlá-lo.

Em música, tanto quanto em dança, os estudos são maneiras de “explorar certos dispositivos técnicos e composicionais para se familiarizar com seu potencial”¹. Diferentes dos exercícios, os estudos tanto possuem uma forma artística mais resolvida quanto são espaços para a experimentação de outras formas de arte. Nesse sentido, o estudo de Rebeca encontra-se no estado em que já há uma intensa familiaridade com o potencial de seus movimentos corporais e segue explorando os outros elementos cênicos – som, disposição do espaço, luz – que, junto com sua proposição de corpo, componham uma forma artística.

Talvez toda obra de arte seja, para sempre, um estudo, mas a ênfase em estudar e não em finalizar nos deixa mais atentos e questionadores ao peso de cada escolha estética.

Helena: na toada da estrada

Helena Meirelles, conhecida como a dama da viola, é a artista sul-mato-grossense que inspira esse solo de Mariana Taques. O solo evoca imagens de seca, animalidade e ciclos de vida e morte do Cerrado. É, principalmente, no contato com o chão e com os elementos cênicos – chapéu, berrante e corda – que a corporalidade de Mariana ganha concretude e significado.

Para além dos sentidos imagéticos, a menção a Helena Meirelles é e ainda pode ser um fator para a elaboração de sentidos sonoros do solo. Logo no início, Mariana narra uma história da vida de Helena à maneira de um causo de Rolando Boldrin, que contribui muito positivamente para instaurar a atmosfera do solo. Trazer a rica sonoridade original da viola de Helena Meirelles para o solo, por sua vez, seria inadequado, e é aí que o solo levanta uma questão: como estabelecer um diálogo entre a musicalidade regional e a dança contemporânea? Questões como essa costumam encontrar respostas na colaboração entre artistas da música e da dança, buscando um ponto de convergência entre som e movimento que favoreça a comunicação cênica.


Será que estamos?
Direção, criação e interpretação: Renato Vasconcelos e Rodrigo Raiz
Trilha Sonora: Denis Duarte e DJ Mistaluba
Músico ao vivo: George Ferreira

Estudos entre fragmentações
Concepção e performance: Rebeca Tadiello
Provocação: Ana Teixeira

Helena: na toada da estrada
Concepção, direção e interpretação: Mariana Taques
Co-direção: Manuela Aranguibel
Provocação dramatúrgica: Osmar Zampieri
Concepção de luz original: Rossana Boccia
Figurino: Leticia Esposito
Apoio: Jambu Galpão e Burkadagutti

Fotos de Hamilton Ramos

Acesse o programa de sala completo aqui.


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